
"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando mais água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como outro falso; a palavra foi feita para dizer."
Graciliano Ramos, em entrevista concedida em 1948.
Talvez seja também assim que as pessoas melhoram, que nós melhoramos, que eu melhore... E não me refiro a isso somente na maneira de escrever! Há muito o que torcer, molhar e torcer novamente.
Parece que o nosso português foi dependurado no varal antes de ser realmente batido na pedra limpa. Nós, que nem sabíamos as regras antigas, agora nos vimos na bifurcação de tremas, sem tremas; acentos, sem acentos...
De um ângulo mais interior (como sempre), tenho muito o que ensaboar as minhas palavras... Porém, contrariando a sequência lógica do nosso autor, dependuro-as aqui - neste varal, para secarem de uma vez. Um dia chegarei lá!
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